sábado, 20 de outubro de 2012

Entrevista a Aurélien Guichard, perfumista de Kenzo


Correr por campos de flores a perder de vista, apanhar o cabelo e fazer esvoaçar um vestido comprido e florido numa tarde quente de Verão. Essa é a proposta de Kenzo para esta estação com a fragrância Madly Kenzo. Uma lufada de ar fresco criada pelo perfumista Aurélien Guichard, para quem um perfume se compara a uma pintura, por ser mais do que a soma das suas matérias-primas, por os aromas serem cores que despertam emoções. Um cheiro. Um vício. Um momento de criação e loucura.

Qual é a importância da cidade de Grasse no seu percurso profissional?
Grasse representa as minhas raízes e aquilo que é realmente fundamental: a família, os amigos, pessoas com grandes qualidades que vivem da perfumaria, o jasmim em Agosto, a rosa em Maio, a mimosa...a vida, a perfumaria e a natureza. É mágico. É por estas razões e muitas outras que considero Grasse um local a que tenho necessariamente que voltar, para regressar às origens, para regressar ao que é importante.

Qual é o primeiro aroma de que se recorda? Que emoção provoca em si?
O primeiro aroma de que me recordo: era Agosto, durante a colheita do jasmim. As mãos do meu pai impregnadas do aroma das flores colhidas pelas mulheres do campo (ou talvez fosse o aroma do meu pai, era demasiado novo, não me recordo bem). Ainda hoje, cheiro uma flor de jasmim grandiflorum e revivo momentos da minha infância. A emoção é imediata.


Quando começou a interessar-se profissionalmente pela arte da perfumaria?
Cresci rodeado de pessoas com um profundo respeito pela criação em geral (a minha mãe é escultora, o meu pai perfumista), e na área da perfumaria em particular. A perfumaria é uma maneira de viver. Gosto dessa vida, vivo assim. Os perfumes são mágicos. As matérias-primas ou ingredientes são cores que falam...tal como, na pintura, o valor da tela não está associado à soma do valor das cores. Em perfumaria, também é assim. O valor de um ‘sumo’ não está associado à soma do valor das matérias-primas, mas sim à ideia, à sua realização e à emoção que transmite: essa é a arte da perfumaria.

O que o motivou a tornar-se perfumista?
A meu ver, os perfumes contam encontros. É disso que gosto. As matérias-primas ou ingredientes são cores que falam...

Quais são as suas fontes de inspiração?
As pessoas. Amigos, uma desconhecida, uma silhueta, um estilo, um conhecido, uma pessoa famosa, não importa quem...procuro sempre alguém que encarna aquilo que eu quero exprimir. Depois, componho a minha criação pensando nessa pessoa.

O que representa, para si, um perfume? O que diz de uma pessoa?
Uma emoção. Eventualmente um vício.

Em que é que se inspirou para criar Madly Kenzo?
Numa mulher-artista. Uma mulher que cria e que é, simultaneamente, bela e livre no seu acto criativo.



O que procurou transmitir?
Uma emoção positiva e feminina, um vício feliz, um perfume livre, uma sensualidade diferente, uma ‘floralidade’ universal.

Qual foi a inspiração na origem da comunicação de Madly Kenzo? Participou na sua criação?
Criar um perfume único, livre como o ar e esquecendo um pouco o lado racional. Não, não estive implicado na comunicação. Sou apenas perfumista.

Entrevista publicada originalmente na revista Perfumes & Companhia

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