Alberto Morillas é um dos grandes nomes da perfumaria, tendo criado perfumes clássicos e contemporâneos que muitos deverão reconhecer. Acqua di Parma, Ana Salazar, Bvlgari, Calvin Klein, Carolina Herrera, Cartier, Custo Barcelona, Giorgio Armani, Givenchy, Kenzo... são imensas as marcas com quem trabalhou, sendo um nome incontornável desta indústria.
Quando o ouvimos falar em francês, temos dificuldade em adivinhar a sua origem espanhola (fala um francês perfeito). Pertencendo a uma geração de perfumistas em que se destacaram muitos franceses "filhos de Grasse", em que é que a sua origem espanhola influenciou as suas preferências olfativas ou o seu espírito criativo?
Quando o ouvimos falar em francês, temos dificuldade em adivinhar a sua origem espanhola (fala um francês perfeito). Pertencendo a uma geração de perfumistas em que se destacaram muitos franceses "filhos de Grasse", em que é que a sua origem espanhola influenciou as suas preferências olfativas ou o seu espírito criativo?
Embora
tentando manter um certo grau de diversidade nas minhas criações,
que são reflexo dos conceitos, das empresas e das pessoas que
represento olfactivamente, tenho uma preferência por certos
ingredientes que reflectem as minhas origens Andaluzas e que conferem
frescura e vitalidade às fragrâncias. Como a salinidade mineral do
ar, os citrinos, as pétalas das flores mediterrânicas que incluem o
jasmim, a tuberosa, o neroli e os botões de laranjeira, nativos
desta região; estes ingredientes recordam-me o sol e os longos
verões.
Na
sua infância ou juventude, imaginou a sua futura carreira como
perfumista? O que é que determinou o seu percurso profissional e
criativo?
Não!
Em criança nem sabia que existia a profissão de Perfumista, só
comecei a ouvir falar em Perfumaria quando vim estudar para Genebra e
descobri também que havia um criador por trás de cada fragrância:
li um artigo na Vogue onde o Jean Paul Guerlain explicava como criar
uma fragrância; foi uma revelação para mim e decidi então o que
queria fazer da minha vida. Depois de completada a École des Beaux
Arts (Escola de Belas-Artes), entrei na Firmenich como Perfumista
Júnior e recebi toda a formação na empresa; nessa época não
existiam escolas independentes para perfumistas.
Quais
foram as suas primeiras criações?
Ser
bem sucedido como Perfumista é um longo processo que exige tempo,
dedicação, trabalho duro e perseverança; as minhas criações para
grandes marcas começaram em meados dos anos 80 e incluem alguns
clássicos como Xeryus de Givenchy, Happy Diamond de Chopard,
Panthère de Cartier, Byzance de Rochas and Le Must de Cartier II, de
Cartier. É claro que antes disso já tinha começado a criar
fragrâncias.
Entre
as suas famosas criações, quais é que lhe deixaram memórias mais
fortes?
ck
one, uma co-criação com Harry Frémont como uma primeira
interpretação de uma "água de colónia" fresca para o
mercado dos E.U.A.. O seu conceito unissexo ou "de partilha"
foi uma verdadeira inovação na forma como os consumidores encaravam
as fragrâncias; até ao seu lançamento, as fragrâncias femininas e
masculinas eram muito estereotipadas. ck one veio demolir muitas
barreiras e continua a ter sucesso 18 anos após o seu lançamento.
Acqua di Giò (também uma co-criação) pela frescura mediterrânica duradoura que introduziu no mercado masculino.
Flower by Kenzo, pelo conceito abstracto da flor da papoila que consegui traduzir olfactivamente numa fragrância com forte identidade sem ser polarizadora e que agrada a consumidoras de todas as idades.
Acqua di Giò (também uma co-criação) pela frescura mediterrânica duradoura que introduziu no mercado masculino.
Flower by Kenzo, pelo conceito abstracto da flor da papoila que consegui traduzir olfactivamente numa fragrância com forte identidade sem ser polarizadora e que agrada a consumidoras de todas as idades.
O
que é para si um perfume requintado?
Uma
fragrância requintada tem de ser construída com ingredientes de boa
qualidade (sintéticos e naturais), bem equilibrados mas com algum
carácter: pode ser expresso através de um ingrediente
verdadeiramente único, ou uma leve sobredosagem de uma matéria,
tornando-se memorável ou intrigante, algo que dá vontade de
continuar a cheirar! E, naturalmente, tecnicamente tem de deixar um
rasto e ter durabilidade.
Quando
cria um perfume, imagina o frasco e a imagem exterior do perfume?
Às
vezes tenho a sorte de ter essa informação no "briefing"
que me fazem, mas isso é raro uma vez que o "packaging" é
habitualmente a última parte da fragrância a ser finalizada, por
isso limito-me a focar-me nas inspirações que me foram transmitidas
e caso-as com as minhas próprias ideias sobre a marca. Embora certos
ingredientes reflictam para mim uma cor e uma forma, isto é parte do
meu processo criativo e tento focar-me nisso sem ser distraído por
outros factores.
Além
dos perfumes criados a pedido de clientes, imagino que com um
"script" pré-definido, também cria perfumes só porque
lhe apetece?
Como
todos os artistas começo por criar para mim próprio, não para os
outros. Tenho de acreditar na minha ideia/conceito antes de o
partilhar ou propor num briefing. Estou sempre a criar novos acordes
e ideias olfactivas, tudo pode ser fonte de inspiração: uma viagem,
uma receita, um novo ingrediente sintético, música, emoções etc.
Por vezes estes acordes acabam por entrar numa nova fragrância e, se
não entram, mantêm-se no meu repertório de ideias. Além de criar
fragrâncias a pedido para a minha marca própria Mizensir, também
crio fragrâncias para pessoas que me são muito próximas, como a
minha família.
Sabemos
que criou os perfumes Custo Barcelona. Como é que foi a experiência
de transformar em perfume o espírito de uma marca tão original e
irreverente?
Trabalhar
com a marca de Custo Dalmau é muito inspirador, tudo se joga em
torno de cores, texturas e assinaturas fortes. A equipa de marketing
que trabalha com Custo entende perfeitamente o ADN da marca e isto
torna muito motivante trabalhar nestas fragrâncias.
Entrevista originalmente publicada na revista PERFUMES & COMPANHIA
Entrevista originalmente publicada na revista PERFUMES & COMPANHIA
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